Sunday, October 19, 2008

Oitenta e três dias no pique de Caco Barcellos (parte 3)

Contra a correnteza

Agosto de 1972, Carlos Alberto Kolecza, jornalista de Porto Alegre, conheceu um estagiário da Folha da Manhã, rapaz de 22 anos que ganhava a vida como taxista. Estilo hippie, barba encobrindo o rosto, longos cabelos encaracolados, calça boca de sino e jaqueta no corpo. Cláudio Barcelos de Barcelos era seu nome. Pessoa simples, aberta a sugestões, humilde. Trinta anos depois Koleza encontrou  o então Caco Barcellos, jornalista renomado da rede Globo, um dos maiores repórteres de investigação do país, autor do sucesso "Rota 66" e da obra-prima, menos conhecida, "A Revolução das Crianças", um relato sobre a revolução sandinista na Nicaráragua. Agora lançava outro sucesso, o "Abusado", um livro que relata a situação do tráfico de drogas nos morros do Rio de Janeiro. Kolecza foi conferir o rumo que teria tomado aquele que um dia foi seu estagiário. Barba feita, cabelo aparado, camisa alinhada, já não mais taxista. Caco se tornara um ícone do jornalismo brasiliero, mas... "Continua o mesmo!", garante Kolecza, sem sombra de dúvidas. Atencioso com todos que o procuram, humilde e o melhor, ele ascendeu socialmente mas não esqueceu, não chutou de escanteio as questões que envolvem os menos favorecidos.

Repórter por vocação, Caco antes sonhara ser jogador de futebol, engenheiro, matemático... Mas quisera a vida que ele entrasse para o mundo das letras que preenchem espaços brancos nos papéis. Mesmo se insiste em afirmar: "Eu não sou tanto jornalista". Uma expressão, a princípio, sem sentido. Mas que passa a ser crível a partir de uma simples explicação. O mundo dos jornalistas que se criou é uma redação abarrotada de cabeças, braços e pernas que não conseguem caminhar nas rus. Navegar na internet e percorrer a linha telefônica basta. Mas existe alguém que sonha em  morrer fazendo reportagem pelo mundo  e que nunca conseguiria se enquadrar no perfil estabelecido para o profissional de comunicação: Caco.

Se deixar levar pelas correntes marítimas é simples, mas Caco é ousado, faz aquilo que considera correto, não importa como. Um ser que nada contra a corrente acaba adquirinto músculos, força, técnicas que acabam desconhecidas por aqueles que se deixam levar pelas águas.

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