Wednesday, October 15, 2008

Oitenta e três dias no pique de Caco Barcellos (parte 1)

Importante nota: Escrevi uma espécie de making off do livro ainda não publicado "No Campo da Reportagem: um perfil do jornalista Caco Barcellos", resultado de meu trabalho de conclusão de curso no Mackenzie. Dividi o texto em quatro partes. Espero que vocês gostem e esperem ansiosos pelos outros 3 posts!



- Alô, por fvor, o Caco.
- Só um minutinho.
Tam, tam, tam... Tam, tam, tam... Melodia suave e repetitiva. Música de espera no telefone.
- Alô.
- Caco? - o coração acelera.
- Sim.
Me apresento e a voz consegue se manter firme, mas o corpo gela, uma emoção quase infantil vem à tona.
- Admiro muito seu trabalho e gostaria de fazer um livro-perfil sobre você.
A espera de uma resposta...
- Sim.
Uma palavra seca me pede explicações.
- A proposta do meu trabalho é acompanhar sua vida. Fazer com você talvez um pouco daquilo que você fez em seus livros. Seguir de perto sua rotina entende?
- Tem alguma coisa estranha.
- Não, não, não. É bem simples, só quero fazer um perfil seu. Alguém já escreveu um livro sobre você?
- Não. Mas você está falando de livros meus?
- Sim, você não escreveu livros?
- Não.
- Como não? Rota 66, Abusado...
- Nunca escrevi.
- Você não é o Caco Barcellos?
- Não...
- Mas ao menos trabalha na Globo?
- Não, eu trabalho em uma copiadora!
A emoção e o nervosismo saíram de cena e a comicidade deixou para trás o que poderia vir a ser uma tragédia.
- Me desculpe então. Um amigo me passou esse número como sendo do jornalista Caco Barcellos.
Conter as gargalhadas nem passou pela cabeça.
- Tudo bem! Te desejo boa sorte no seu trabalho.
- Obrigada e desculpe a confusão.

Cômico e desesperador. Não era o Caco Barcellos. O fone recuperou seu lugar na base. Não fora ainda daquela vez, mas desistir estava fora de cogitação. A busca começou às 13h de um dia no começo de outubro de 2006. Amigos ajudam. Google também. Mas a cara de pau é a verdadeira aliada. Passadas cinco horas de busca intensa, uma desculpa convincente conquistou o precioso número de Caco Barcellos. Números sussurrados ao léu por um colega de TV onde o conhecido jornalista trabalha. E agora faltava só a coragem! Com certeza aquele era o número exato e quando ouvisse o "alô" do outro lado da linha precisaria ser firme e audaciosa. Imaginava falar com uma estrela brilhante, global, plantada bem no alto do céu.

O discurso se repetiu "admiro seu trabalho, seus livros...", dessa vez o interlocutor questionou outros pontos, argumentou com veemência.
- Mas minha vida é corrida, é uma loucura.
- É isso mesmo que eu preciso sentir, como é, de fato, o seu trabalho.
- Tudo bem, mas não falo da vida pessoal.
- Ok! Sem problemas, o que interessa para o meu trabalho é você como jornalista.

O "treinamento" realizado anteriormente com o Caco da copiadora acabara sendo bem útil, mas a ingênua alegria de ter falado com um ídolo persistia. A notícia tão aguardada: ele fora condescendente com a minha proposta. Yes!!! 




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